Terror Noturno



Quando apagavam as luzes da casa, todos já sabiam o que estava por vir. Não dormiam, apenas esperavam que acontecesse para, só então descansarem tranqüilos no que restasse de noite. A irmã vivia atormentada por ter que dormir no mesmo quarto em que acontecia tudo aquilo, tantos anos e ainda não se acostumara. Mesmo com medo, aceitava que apagassem a luz do quarto, pois sabia que assim a outra dormiria mais facilmente, e, quanto mais rápido dormisse, mais rápido aquilo aconteceria e todos poderiam dormir em paz.
Acontecia sempre depois da meia-noite. Quando um ou outro morador da casa começava a acreditar que teriam uma das raras noites tranqüilas, surgiam os primeiros gritos rasgando o silêncio mórbido das madrugadas na casa, agora tomada pelo terror. O primeiro grito era sempre o mais alto, mais agudo e angustiante. Como se trouxesse consigo todos os monstros que habitavam dentro dela. A avó dizia que a menina, mais parecia que gritava toda a raiva do mundo. O fato é que a menina gritava e se contorcia com os olhinhos fechados, e expressão de angústia. E depois do primeiro grito, sempre vinham outros, uns traziam medo, outros apenas expressavam um desespero que quase tomava conta daqueles que ouviam.
Às vezes ela gritava por socorro, gritava com medo, pedindo que parasse. Na primeira noite, a mãe pensou que a menina estivesse tendo algum pesadelo, pois ela gritava enquanto, aparentemente, dormia. Mas depois aquilo começou a acontecer com mais freqüência e, com o tempo, a família foi se “adaptando”. Só a mãe não conseguia se conter em desespero. Sempre que sentia aquele primeiro grito como uma fina navalha perfurando-lhe o útero, corria para o quarto da filha mesmo sabendo que não poderia fazer nada por ela. Os poucos conhecidos pra quem a família tinha coragem de contar sobre o caso da filha, diziam que não é bom acordar pessoas quando estão tendo pesadelos. A mãe sabia que não era pesadelo o que a menina tinha, mas achou por bem não interferir, sentia que, em algum lugar, os gritos da filha faziam sentido. Sentava-se entre as camas das duas meninas e esperava. De repente, o silêncio voltava. Agora sim ela tinha certeza de que a filha dormia em paz, seus monstros foram embora, pelo menos por aquela noite...




*"terror noturno"ou "Pavor Nocturnus" e é um severo distúrbio do sono, consistindo de ataques de terror agudo emergindo do sono profundo sem sonhos. É acompanhado por violentos movimentos corporais, agitação extrema, gritos, gemidos, falta de ar, suor, confusão, e em alguns casos, fuga da cama ou do quarto, comportamento destrutivo e agressão dirigida a objetos ou contra eles mesmos ou outras pessoas. Feridas, fraturas e lesões podem ocrrer em consequência.
http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2003/g3/terror.html

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